terça-feira, julho 28

quarta-feira, julho 15

Presença

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Se toda a minha vida te pertence


como crer em minha morte?



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quarta-feira, julho 1




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sábado, junho 20

Punhal de Prata

(...)

Eis-te,aqui, dona da luz completa
sobre o meu corpo estendida,
exorcizando com um simples gesto
a minha sombra mais escura.

E qual aurora que irrompe na ruína,
fitas-me enamorada frente a frente
enquanto a vida pulsa a cada instante
na tua boca apetecida.

A ti me entrego e me abandono
e me incluo e participo
no longo canto por ti tecido.
Um canto de amantes
que ao fim da noite vão morrer
em sí próprios naufragados
para sempre amanhecidos.

Deixemos Deus entregue à sua altiva indiferença.
Morramos pela luz humana que em nós habita.
Ès tu alâmpada sobre o mundo,
tendo a minha treva por companhia.
Para quê temer a morte
se em nós a vida se fez infinita?
Não vês que a eternidade resplandece
ao ouvir o nosso nome em surdina
no ruído efémero dos dias?

Anda, meu amor, enterra-me decidida
este punhal de prata no meu peito:
só a morte é perfeita - quero realizar-me contigo.
Hoje, a teu lado, estou pronto para ela.
E amanhã será outro dia.


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sexta-feira, junho 5

(...)

A noite é uma labareda que te pensa
e cada astro a arder nos céus te sonha.
Estrelas do céu : porque velais o sono da minha amada,
se é ela que, mesmo dormindo, vos inunda com a sua luz?

(...)



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sexta-feira, maio 22




(...)


Cinge-me em teus braços

para que a luz límpida do amanhecer

inunde de esplendor os meus sentidos

e propague pelo meu sangue

a clara transparência do que é vivo.


(...)

terça-feira, maio 19

Nocturno

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De noite

passei horas a olhar o céu,

mas só quando vieste

vi nele brilhar as estrelas.



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terça-feira, maio 12




(...)Amor, com que graça ou dom

te farei minha no espaço breve que é viver?

Como perpetuar teu rosto se ele é grito em mim,

amanhecer de frágil maravilha,

cor do meu próprio sangue

que o lume em sua calidez imita?

quinta-feira, maio 7





(...)

Que perfume é este
que tua pele exala
e sobre mim se derrama
num súbito tremor de claridade?

Ah, pudesse eu tocar tua alma
onde se reflecte puro o firmamento
e a beleza do mundo se espelha deslumbrada
numa contínua festa de estio e primavera!

E pela verdura dos anos beijar teus lábios,
beber a sombra de tantos frutos iluminados!

Leve, tão leve nada mais seria
que ar e brisa e pólen a cintilar ao vento,
a vida mais estéril fecundaria!



in "Nudez"

quarta-feira, maio 6

terça-feira, maio 5

O Muro


Dans le mot amour il y a le mot mur.

Edmond Jabés



Por detrás da noite há um muro.
Minhas mãos o tocam. Soa-me na voz um fragor de pedra.
A solidão me impele a um lamento surdo.
Choro tua memória. Teu corpo a mim entregue.
Entre seda e mel. Lume. Comunhão de labaredas.
Meu rosto não mente: partiste.
Meus olhos te buscam para além deste frio estreme,
desta névoa que envolve meus dias ávida
de lágrimas e agonia.
Sobram-me os gestos, as carícias que não demos,
e o vinho entontecido que ficou em meus lábios a arder.
Não, não me encontres em sonhos
na calidez de teu leito.
Ficou fechado o tempo dos lírios acesos,
das açucenas dos vales,
dos campos irradiando verde,
das corças nuas correndo
em direcção à luz impoluta das manhãs.
Está amargo o coração. Está amargo,
ateando a morte em sua frágil roseira dissecada.
Que sabes tu desta fome inconsútil
envergando o traje amarrotado da indiferença?
Do rubro vinho que em minhas veias corre célere
despertando o fogo mais oculto e mais ardente?
Tanto, tanto esforço dispendido
para que foras nuvem branca, colina aberta,
júbilo constante em meu peito resguardada…
Para que em mim brilhasses destruí
os caminhos da minha liberdade,
acolhi no pensamento a delicadeza do orvalho
e o cheiro da terra molhada que rescende
após a chuva de um longo dia de Verão.
Inventei aves canoras para ti,
pinheirais a ondear ao vento,
manhãs de neblina intensa,
rubros vinhedos,
eloendros em flor,
loiros trigais espraiados na lonjura
e á mobilidade de certos rios impus
a permanência do meu desejo puro.
Bebi a água que te cercava os lábios
com a sofreguidão de um adolescente cego,
atravessei os luminosos poentes que em tua nudez
se perfumavam com as cores de uma aurora radiante
e no surdo sussurrar das fontes soube ouvir
o som da chama que supera a labareda
e a voz do fogo que persiste para além
da combustão das coisas.
Para tocar teu corpo
minhas mãos se encheram de giesta e de urze,
de seiva e resina, de trevos e de espigas.
Cantei-te como quem nega a morte:
fragrante da vida que tua pele esplende,
do aroma que tua boca emana,
da tepidez velada que teu ventre inebria.
Quem és, ó doce respiração de meu sangue?
Ambígua forma que não alcanço,
amarga evanescência,
doloroso fluir de incandescente corpo
que minha carne fazes estremecer
em sua deslumbrada intensidade
e meus sentidos inocentemente florir
e minhas pálpebras irisar,
com tuas silenciosas ondas,
tuas frementes espumas,
teus relâmpagos de frescura,
tuas incontáveis claridades?
Tanta paixão de pranto agarrada aos meus ombros.
Sacudir de todas as raízes,
Assalto de todas as vagas!
Roda, hoje, tiste, interminável, a minha alma.
Pensando, enterrando lâmpadas nesta profunda solidão.
Mas quem és tu, quem és?

quinta-feira, abril 30

Fim de viagem

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Em teu mar perfeito

lançou âncora

meu coração itenerante.

quarta-feira, abril 22



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terça-feira, abril 21

Arte poética

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Como um pequeno rebanho

as palavras alinharam-se

em meus lábios

tendo a tua boca

como seu pastor.

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segunda-feira, abril 20

circum-navegação

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Quando te toco

entrego-me à navegação

de todos os longes.



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quinta-feira, abril 16

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(...) Porque na vida não há senão dois caminhos : amarmos alguém ou nem chegarmos sequer a nascer. Mesmo que o amor seja também mortal amarmos alguém. Mesmo que o amor se extinga e apague: amarmos alguém. Mesmo que não sejamos correspondidos : amarmos alguém. Mesmo que o amor seja apenas um sonho: amarmos alguém. Mesmo que o amor seja somente uma invenção : amarmos alguém. Amarmos desesperadamente até à nossa própria combustão. Que me importa o efémero perante o teu sorriso de agora ? Que me importa que tudo passe se contigo me perpetuo neste instante? Que me importa o mistério se contigo me sinto já resposta?Falar do além é ser triste aqui. É não acreditar no teu sorriso. (...)

quarta-feira, abril 15

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A solidão

segue agora o seu caminho

sem nós.


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terça-feira, abril 14

No princípio

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Não ascendas ao verbo amar

no improviso do mais tarde.


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domingo, abril 12

Leito

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Este beijo que nos lábios finge ser água

em que rios se vingou da indiferença do mar?


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quarta-feira, abril 8

Sem ti

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É nos dias cheios de sol

que mais ouço cair a chuva

dentro de nossa casa .



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