sábado, junho 20

Punhal de Prata

(...)

Eis-te,aqui, dona da luz completa
sobre o meu corpo estendida,
exorcizando com um simples gesto
a minha sombra mais escura.

E qual aurora que irrompe na ruína,
fitas-me enamorada frente a frente
enquanto a vida pulsa a cada instante
na tua boca apetecida.

A ti me entrego e me abandono
e me incluo e participo
no longo canto por ti tecido.
Um canto de amantes
que ao fim da noite vão morrer
em sí próprios naufragados
para sempre amanhecidos.

Deixemos Deus entregue à sua altiva indiferença.
Morramos pela luz humana que em nós habita.
Ès tu alâmpada sobre o mundo,
tendo a minha treva por companhia.
Para quê temer a morte
se em nós a vida se fez infinita?
Não vês que a eternidade resplandece
ao ouvir o nosso nome em surdina
no ruído efémero dos dias?

Anda, meu amor, enterra-me decidida
este punhal de prata no meu peito:
só a morte é perfeita - quero realizar-me contigo.
Hoje, a teu lado, estou pronto para ela.
E amanhã será outro dia.


.

1 comentário:

Anónimo disse...

qUE COISA QUE DRAMA MEU